Não Marque Reunião na Hora do Almoço!

Tenho um pedido muito especial para fazer ao “chefe” do meu marido: “Por favor, não marque reunião na hora do almoço.”

Explico: desde a pandemia eu e meu marido estamos tentando nos encontrar em todos os caminhos da nossa convivência familiar, passando desde a adaptação ao novo cenário financeiro, que ainda é confortável para nós, mas inseguro com os altos custos para criar três adolescentes, pagar a pensão de outros dois, administrar a existência de um negócio literário meu que nunca dá lucro (até o momento, espero!) e conviver com as várias tarefas domésticas exigidas em uma nova realidade de pandemia, com cada vez menos ajuda de empregados e cada vez mais protagonismo familiar.

E por falar em “protagonismo”, vamos lá: esta é uma palavra que escuto muito quando passo pelo escritório do meu marido e o percebo em reunião. Seu superior credita o protagonismo das pessoas ao sucesso das organizações. Concordo com ele nesse ponto e acho que pessoas sem protagonismo não vencem na vida. Mas, há outros fatores cruciais para mantermos nosso protagonismo ativo no nosso dia a dia: a possibilidade de exercê-lo, sem reuniões a todo instante.

O conceito de “reunião” está se tornando cada vez mais uma alternativa ao isolamento social-laboral existente no pós-pandemia. Isso porque, antes era fácil esbarrar com os colegas de trabalho, subordinados e chefes, com ou sem protagonismo, para tomar um café ou comentar sobre aquele gol que não aconteceu… mas atualmente, só é possível visitar aquele rosto e ouvir aquela voz, se uma reunião terapêutica providencial surgir em meio ao caos da solidão do home office. Com isso, os aplicativos Zoom e Meet estão sendo usados com uma frequência enorme, reuniões nunca foram tão essenciais e o tempo nunca foi tão disputado.

O problema é que, no meio desse turbilhão de emoções à flor da pele, existe uma nova dinâmica familiar, que foi criada a partir da pandemia e que já se consolidou no comportamento de uma casa sem empregada, sem motorista de van para levar e buscar os filhos no colégio e sem espaço para um sanduíche rápido na hora do almoço, em meio à uma reunião.

Sim, senhor “Anderson”, a vida mudou e agora, meu marido exerce um protagonismo jamais visto antes na história da nossa vida conjugal. Agora, ele é pai ativo, dono de casa tanto quanto eu e motorista de van no horário escolar.

Então, por favor, na hora em que bater saudade e não conseguir resolver algo pelo Trello, na reunião de fechamento do dia, e tiver que falar com meu marido, evite o horário do almoço! Ele certamente estará buscando nossos filhos enquanto eu preparo a comida.

Entendeu?

By Cris Coelho

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