O ano novo está chegando, mas é certo que a vida nova já chegou há muito tempo. Se ontem costumávamos admirar belas moças dançando com seus shorts minúsculos na tela de uma televisão, hoje nosso olhar está focado em absorver as notícias que impactam nossa vida, cujos corpos nem sempre são durinhos e joviais.
Ainda não passamos pela transição dolorida que nos obriga a olharmos mais incisivamente para dentro da nossa alma preconceituosa e estamos, a passos lentos, entrando no processo de cura e “auto-novo-conhecimento” sobre nós, mas já entendemos o que deve ou não ilustrar uma equipe, uma sala de aula e um balé de um programa de domingo. Entendemos, por fim, que não adianta pedir o fim da “transfobia” por exemplo, se não dialogamos com aquele ser distante de nós que insistimos em ignorar…
Levantamos as bandeiras contra o preconceito e exigimos que a escola do nosso filho disponibilize cotas para os negros da comunidade, mas não paramos para nos questionar se estamos prontos para aceitar esse pequeno ser de pele escura cantando funk dentro do quarto do nosso filho. Sim, um rosto maquiado sempre parece mais apresentável, mas não passa a verdade que tanto buscamos…
E, para o ano que vem, desejemos que os programas dominicais não deixem de existir, desejemos apenas que eles se readequem ao novo, que escolham para compor em seu quadro pessoas gordas, trans, homens… que os shorts curtos sejam substituídos por trajes menos sensuais e mais adequados ao que se espera de uma dança sem segundas intenções midiáticas. Sabemos que o titio safadinho vai estranhar, que a vovó vai se irritar, mas com o tempo, todos se acostumarão a ver um balé sendo dançado por pessoas reais, dessas que sentam do nosso lado no ônibus, mas que acabamos não conversando por falta de interesse.
By Cris Coelho
Todos Querem Lichia 